quarta-feira, 21 de outubro de 2015

22/09/2015 - Lamento pela Vinha de Deus - Isaías 5.1-30

LAMENTO PELA VINHA DE DEUS
A ira do Senhor se acende contra o seu povo, quando este rejeita a Sua Lei e despreza a Sua Palavra.
Isaías 5.1-30
O capítulo 5 começa com um poema famoso de lamento, onde, sob a imagem da vinha infrutífera, o povo de Deus é advertido novamente, com grande urgência, sobre o vindouro dia do acerto de contas à luz da destruição devastadora que deveria ocorrer.
Mas se há alguma esperança, como ele se relaciona com o julgamento e como ela será concretizada? Como pode a cidade infiel se tornar a cidade fiel?
Os problemas que o profeta apresenta nessa passagem ressaltam, ainda mais, a justiça de Deus. Os sintomas sociais, ou pecados narrados no texto, revelam uma doença espiritual; o povo é enganado pelo pecado (v. 18-19), reverte os absolutos morais de Deus (v. 20) e é tolo o bastante para imaginar ser autossuficiente (v. 21), pensando ser meramente autoindulgente (v. 22-24), ou seja, é sábio aos seus próprios olhos pensando ser capaz de conceder perdão a si mesmo.
Não é à toa que este capítulo termina com escuridão incessante e grande angústia (v.30).
Por essa razão podemos afirmar que a ira do Senhor se acende contra o seu povo, quando este rejeita a Sua Lei e despreza a Sua Palavra.
1- O ZELO DO SENHOR E A CORRUPÇÃO DO POVO (v. 1-7)
O profeta inicia este capítulo apresentando, em forma de um cântico ou de um poema, a vinha de alguém que lhe era muito caro, uma pessoa amada.
Após expor o tema dessa canção ou desse poema, ele começa a descrever a vinha desse amigo, mostrando que se tratava de uma vinha extremamente favorecida: estava localizada em uma colina, cuja terra era muito fértil e, além desse privilégio, ainda era cuidada com todo o zelo pelo seu dono que afofava a terra, limpava as ervas daninhas e as pedras. Não somente isto, mas o dono da vinha também construiu ali uma torre e um tanque onde as uvas seriam pisadas para se extrair o vinho.
Mas o resultado não foi o pretendido: em lugar de uvas boas, a vinha produziu uvas bravas; pequenas, amargas e nada se podia fazer com elas.
Agora, no verso 3, não temos mais o profeta se referindo à vinha, mas sim o seu próprio dono.
Ele convoca os moradores de Jerusalém e de Judá a se pronunciarem acerca daquilo que deveria fazer diante da seguinte situação: plantou a vinha, cuidou dela, mas seus frutos não eram bons. Como não havia mais nada a se fazer com a vinha má, provavelmente o veredito do povo tenha sido na direção de apoiar ao senhor da vinha a deixa-la de lado, abandoná-la para que ela perecesse.
Interessante voltarmos olhos para o relato de II Samuel 12.1-7a, quando o profeta Natã repreende a Davi por conta do pecado cometido pelo Rei. Davi se ira contra o personagem da
história narrada pelo profeta. Contudo, aquele homem cruel apesentado por Natã, era o próprio
Rei Davi.
Não somos diferentes de Jerusalém, de Judá ou do Rei Davi; muitas vezes somos prontos
a apontar os pecados dos outros e nos esquecemos dos nossos, afinal de contas, há esperança,
há perdão e não há com o que nos preocuparmos. Será?
De fato, há esperança, mas essa esperança não nos tira do presente, nem nos afasta
da nossa responsabilidade diante do pecado.
No verso 7, então, Isaías retoma o discurso e esclarece que o senhor da vinha é o Deus
Yahveh e a vinha, é a casa de Israel.
2- “AIS” – A IRA DE DEUS CONTRA OS QUE REJEITAM A SUA LEI (v. 8-25)
Esse bloco nos apresenta uma lista de problemas que são relacionados pelo profeta.
I. Cobiça/avareza – expandem suas propriedades infinitamente, mas haverá um tempo onde
essas casas estariam abandonadas (v. 8-10);
II. Libertinagem/orgias – amor ao prazer e abuso da bebida, mas a festa seria encerrada
com cativeiro, fome, sede (v. 11-17);
III. Arrogância/iniquidade – pecadores desavergonhados; zombam de Deus, pedindo uma
execução antecipada do Seu plano (v. 18-19);
IV. Perversão – falsificadores da verdade (v. 20);
V. Injustiça/orgulho – rejeitam a instrução divina por meio do profeta (v. 21);
VI. Excessos/corrupção – negam a justiça (v. 22-23).
Rejeitam a lei do Senhor e desprezam a Sua Palavra. Por isso se acende a ira do
Senhor contra o seu povo, contra a sua vinha. (v. 25).
Por causa do pecado, nossa carne odeia tudo em Deus. Essa afirmação pode parecer muito
dura, mas é real.
Olhando para carta de Paulo aos Gálatas, capítulo 5, versos 19 a 21, vemos uma relação
de pecados que constantemente estão diante de nós, alimentando o pendor da nossa carne.
Contudo, há no final desse bloco a sentença contra aqueles que vivem na prática do pecado de
forma contumaz, sem que esse pecado lhes cause qualquer constrangimento ou aponte para a
necessidade de arrependimento.
3- A JUSTA RETRIBUIÇÃO (v. 26-30)
É possível que a descrição feita nestes versos seja referente à Assíria, por conta do seu
poderio militar, sua disposição para a guerra e a crueldade com a qual subjugava os povos
inimigos (v. 29 – “... arrebatam a presa e não há quem a livre”).
É importante lembrarmos que mesmo nações ímpias que se levantaram contra o povo de
Deus, não passavam de instrumentos nas mãos de Deus. Egito, Babilônia, Assíria, Pérsia, mesmo
confiando em todo o seu poderio, sempre estiveram a serviço de Yahveh, para cumprir os Seus
propósitos em relação ao Seu povo. (Isaías 10.5-6).
Diante dessa cena não haveria tranquilidade para Israel por onde quer que fosse, pois, o seu pecado seria constantemente tratado por Deus e esse tratamento era manifestado através de juízo, punição e uma correção severa.
Contudo, mesmo diante de uma nação ímpia e tão cruel como era a Assíria, esse não era o maior problema do povo e não deveria ser a razão primeira do seu temor.
O maior problema daquele povo, que é também o nosso problema hoje, está descrito nas palavras de Jesus, narradas pelo evangelista Lucas, no capítulo 12, verso 5:
“Eu, porém, vos mostrarei a quem deveis temer: temei aquele que, depois de matar, tem poder para lançar no inferno. Sim, a esse deveis temer.”
Conclusão:
Essa é uma mensagem dura. As palavras do profeta, mais uma vez, apontam o pecado e a dureza no coração do povo. Por essa razão, o juízo de Deus seria derramado justamente.
Mas precisamos dessa mensagem sombria, dura, porque Deus não só expõe o pecado do povo, mas Ele vai agir contra esse pecado.
Como é então que a exposição do pecado e da promessa de julgamento pode nos trazer esperança?
A esperança consiste no fato de que, uma vez conscientes do nosso pecado, devemos abandoná-lo, lutar contra ele e vivermos em novidade de vida, segundo as leis estabelecidas por Deus e segundo o que se exige daqueles que tiveram suas vidas transformadas pelo Cordeiro.
Nossa carne odeia tudo em Deus, pois para satisfazermos os desejos dela, precisamos estar distantes da Lei de Deus e de Sua Palavra. Mas quando estamos debaixo da Lei de Deus e de Sua Palavra, nossa carne vai sendo mortificada a cada dia, pois não é alimentada como deseja. Isso é santificação, e sem santificação ninguém verá o senhor, conforme Hebreus 12.14.
Se somos filhos de Deus, devemos viver como filhos de Deus.
Se fomos, de fato, lavados no sangue do Cordeiro, temos um padrão a seguir. Esse padrão é CRISTO!
Bibliografia
OSWALT, John. Isaías. Cultura Cristã: São Paulo, SP, 2011. JACKMAN, David. Teaching Isaiah. London: Proclamation Trust Media. 2010.

domingo, 18 de outubro de 2015

15/10/2015 - Esperança em meio a condenação - Isaías 4. 2-6

Esperança em meio a condenação
O Senhor promete restauração à nação pactual: o glorioso futuro garantido pelas promessas de Deus.
Isaías 4.2-6

O livro de Isaías é conhecido por suas mensagens duras ao povo de Israel no Antigo Testamento.
Imagine o leitor do profeta diante das sentenças de juízo anunciadas. Imagine a reação deles diante de palavras tão terríveis. Talvez, alguns, por causa da dureza de seus corações, pudessem até permanecer indiferentes. Possivelmente essa indiferença fosse a reação da maioria.
Mas imagine também o contrário: o ouvinte ou leitor que perante à mensagem tão difícil, sente-se tocado e, desesperado, busca uma solução. Seu destino parece ser terrível e sem saída. De fato, sem as palavras de esperança dos capítulos 2.1-5 e 4.2-6, o leitor original não poderia ver uma luz no fim do túnel. Sem elas, a única resposta que faria sentido seria o total desespero, pois, o juízo teria como único objetivo a punição.
Mas, em meio a terrível sentença anunciada pelo profeta Isaías contra o povo de Judá e Samaria nos capítulo 1 e 2.6-4.1 surge uma promessa contrastante entre aquilo que Israel é e aquilo que Israel será. A “prostituta” seria mais uma vez chamada cidade fiel.

A Promessa do Renovo
A esperança de Judá diante da sentença anunciada nos capítulos anteriores estaria no Renovo do Senhor. Para alguns, este “Renovo” é uma referência ao próprio povo de Israel. No entanto, o profeta Jeremias nos apresenta uma outra compreensão quando faz a seguinte afirmação: “Eis que vem dias, diz o Senhor, em que levantarei a Davi um Renovo justo; e rei que é, reinará e agirá sabiamente, e executará o juízo e a justiça na terra. Nos seus dias, Judá será salvo, e Israel habitará seguro; será este o seu nome, como que será chamado: Senhor, Justiça nossa” (Jeremias 23.5-6). A partir dessas palavras podemos ver que Judá e Israel serão beneficiadas nos dias do Renovo, portanto, Judá e Israel não são o renovo. Na verdade, segundo o pesquisador do Antigo Testamento, John Oswalt, Israel procede dele de maneira graciosa. Este Renovo que reinará é, portanto, uma referência ao próprio Messias, ou seja, uma referência a Jesus Cristo. A glória e o orgulho de Judá – que antes estava em suas próprias obras - estaria em Jesus, aquele que é o mediador da glória de Deus (João 1.).

A Promessa da Santificação
Uma nação que se tornou tão diferente do Senhor em seu caráter moral, “naquele dia”[1], virá a ser santa. É, portanto, na santificação do povo da aliança que reside o propósito do juízo e da redenção. Por isso, David Jackman, um renomado teólogo e pastor inglês, afirma que a disciplina de Deus tem um propósito restaurador. Deus quer que seu povo seja santo. Em parte, porque pertencemos à Ele e, em parte, porque temos como dever a manifestação do caráter divino. 

A Promessa de Proteção

A linguagem usada pelo profeta nessa passagem deve ter levado seu leitor a uma profunda reflexão em relação aos acontecimentos do passado. Ela levaria o povo de Judá a considerar o pacto de Deus, ao qual, Ele é fiel. Assim como foi a proteção de Yahweh[2] sobre o povo de Israel quando saíram do Egito, assim seria novamente. No entanto esta proteção não é restrita a uma nação específica, mas é possessão de todos o que adoram o Deus de Sião.
O mesmo fogo que os purifica, é agora sua proteção e segurança. John Oswalt afirma: “E assim o autor está dizendo que não há nada no universo criado que possa prejudicar os que pertencem a Deus.”
Lembramos aqui das palavras do salmista:
“O que habita no esconderijo do Altíssimo e descansa à sombra do Onipotente e diz ao Senhor: Meu refúgio e meu baluarte, Deus meu, em quem me refugio.” (Sl. 91.1)

Conclusão
Concluímos, a partir da reflexão feita acima, que não é prudente desconsiderar o sofrimento. Pode ser que ele seja Deus nos guiando à auto avaliação e, por conseguinte, ao arrependimento. Neste sentido, as lutas da vida, as dores e o castigo divino são bençãos de Deus.
Esta é também uma palavra de esperança para aqueles que sofrem. Na verdade, todos sofrem, mas, há aqueles que sabem em quem repousar seu coração em tempos de angustia. Outros, diante das lutas, não vêem alternativa alguma para seus problemas e por isso apenas aguardam em desespero as piores coisas.
Aos que chegaram à consciência de sua carência, pecado e dependência de Deus, este texto os convida a colocar suas expectativas em Jesus. Ele é a luz do mundo, a luz no final do túnel, o refrigério em tempos de aflição, a salvação para o homem condenado pela culpa e pelo pecado herdado de nossos pais. Coloque, portanto, seu coração e fé em Jesus.
Em Deus podemos nos sentir seguros. Ele é aquele que nos protege; e nada poderá nos fazer mal. “Se Deus é por nós, quem será contra nós?” (Romanos 8.31).




[1] A expressão “naquele dia” em versos anteriores, faz referência a um dia de juízo terrível, no entanto, nesta passagem, a referência é ao dia da redenção do povo de Deus. Redenção esta pela qual os eleitos de Deus foram alcançados no sacrifício de Jesus e, a qual, ainda se espera plenamente na segunda vinda de Jesus.
[2] Nome para Deus no Antigo Testamento. O sentido do nome é explicado em Êxodo 3.14, onde se traduz, “Eu sou o que sou”. Assim interpretado, o nome indica a imutabilidade de Deus. Contudo, não indica a imutabilidade de seu ser essencial, mas sim a imutabilidade de sua relação com seu povo.

quinta-feira, 8 de outubro de 2015

08/10/2015 - A Loucura da Dependência Humana - Isaías 3.1-4

A Loucura da Dependência Humana
A rebelião orgulhosa é auto destrutiva porque desencadeia a justa retribuição do pacto do Senhor.

“Cada povo tem o governo que merece”. Provavelmente você já tenha ouvido esta frase em algum momento de sua vida. Talvez, em virtude do atual cenário político do nosso país, você esteja pensando um pouco sobre isso... Eu estou!
Mas, nosso interesse aqui está longe de ser estritamente político; e sim, teológico e espiritual. Nosso ponto de partida não será o atual governo de nosso país e, sim, os líderes espirituais, políticos e militares de Judá e Jerusalém no ano de 740 a.C.
O texto de Isaías no mostra o quanto o povo de Judá e Jerusalém estavam corrompidos. Sua corrupção estava presente nas diversas áreas da vida pública e privada da nação. Não apenas a esfera política havia sido corrompida, mas, também, a vida religiosa. As assembléias solenes da nação estavam banhadas de iniquidade e tanto os governantes quanto o povo haviam se esquecido de suas responsabilidades sociais, negligenciando os pobres, os órfãos e as viúvas. Tudo isso, eram sintomas de algo maior - o povo de Judá havia se rebelado contra o Senhor:
“Ah, nação pecadora, povo carregado de maldade, descendência de malfeitores, filhos que praticam a corrupção! Deixaram o Senhor, desprezaram o Santo de Israel, afastaram-se dele.”
Obviamente, a rebeldia de Judá não ficaria impune, Deus se vingaria daqueles que profanaram sua aliança adorando outros deuses e a si mesmos. O profeta Isaías, portanto, não apenas denuncia o pecado da nação, mas, também, anuncia o terrível juízo de Deus contra os profanadores da aliança. O próprio Deus se levantaria contra Judá, punindo-os por sua rebeldia. Os capítulos 2.1-4.1 são, portanto (segundo David Jackman), um catálogo da aflição.
Do capítulo 2.6-22, o profeta trata o assunto em termos gerais. Deus desbarataria o orgulho e a auto exaltação humana e, não haveria quem o pudesse deter. Nos versos seguintes, 3.1-4.1, o profeta trata em termos mais específicos ao mostrar que o juízo de Deus contra Judá teria início no meio do próprio povo. Deus levantaria líderes incompetentes e os poria por governantes de Judá. Desta forma, o povo padeceria não pelas mãos de uma nação inimiga, mas pelas mãos daqueles em quem eles depositavam suas esperanças: seus líderes. Nisto consistiria o abandono de Deus relatado nos capítulos 2.6 e 3.1. A instabilidade social seria a área em que todo o povo iria sentir o julgamento de Deus.

Meninos em Lugar de homens
Deus retiraria todo o suporte e fornecimento à Judá. A infraestrutura do governo experiente seria removida e a lacuna seria preenchida por meras crianças (a linguagem usada pelo profeta é figurativa; nesse caso, crianças, têm o significado de líderes incompetentes, bem como mulheres mais a frente – vs. 12), resultando em anarquia social e um completo desespero.

Neste ponto, lembramos a frase de João Calvino: “Quando Deus quer punir uma nação, Ele lhes dá lideres corruptos e iníquos.”

Rapina por Liderança
Dos versos 3.8-11, o texto trata de forma mais específica sobre o povo. O povo de Judá e Jerusalém não eram meras vítimas de um governo corrupto, na verdade, eles eram tão corruptos quanto seus governantes. Podemos dizer que o governo era um mero reflexo do povo. Suas atitudes afrontavam diretamente ao Senhor e por conta de sua queda moral e espiritual seriam destruídos posteriormente. No entanto, as atitudes do povo seriam retribuídas por Deus; as boas e as más. John Oswalt afirma: “Deus é consistente, e seus caminhos são consistentes. Viver em harmonia com esses caminhos é cumular bênçãos, em parte agora, mas especialmente no fim. Viver desafiando esses caminhos é cumular o mal, não agora, mas certamente no fim.”
Os versos 3.12-15, trata em termos da liderança. Os líderes, que eram covardes e gananciosos, que governavam o povo para a própria destruição deles (“Que loucura, para Judá, adular aqueles que os destruía, enquanto ao mesmo tempo, sacudiam de si o suave jugo de Deus.” – John Oswalt), sofreriam as consequências de seus atos, embora fossem, naquele momento, instrumentos de Deus para punir o povo, portanto não deixariam de ser responsabilizados por seus atos.

Vergonha em Lugar de Beleza
Na ultima parte do texto, a passagem nos mostra qual é o resultado decorrente da rebeldia e tentação à Deus: humilhação e vergonha. Representada aqui pela “Mulher de Sião”, Judá, está humilhada, como resultado direto da confrontação contra o único que é autossuficiente. Aquela que outrora vivia um estilo de vida ostentoso e evidenciava em sua prática a conivência com o pecado do governo, está agora desesperada por perpetuação e o mínimo de honra, tendo em vista que seus joelhos foram dobrados pelo próprio “dedo” de Deus. John Owalt, conclui o comentário dessa passagem com a seguinte afirmação: Aqui está o termo final de nosso desejo de evitar a dependência (4.1). Tornar-nos-emos dependentes das formas mais degradantes e desvantajosas. Em vez da exaltação e edificação que provêm da grata submissão a Deus e uns aos outros (60.1-62.12), nosso esforço para sermos auto-suficiêntes só nos trará humilhação, desespero e servidão.

Claro que muito se pode aplicar ao nosso contexto social e eclesiástico a partir desta passagem. Como mencionei no começo, fica difícil ler e estudar um texto como esse sem pensar na condição política e social do nosso país. Em épocas de crise, surge a pergunta: de quem é a culpa? De acordo com o texto, a resposta é obvia: a culpa é de todos. Não adianta terceirizar a responsabilidade; obviamente, que não estamos isentando o governo de suas responsabilidades e culpa. Mas, é difícil pensar que a moral do povo seja muito diferente da moral do governante. No final, o governo, é somente um reflexo do próprio povo. Lembre-se que Judá era conivente com o governo corrupto.
Textos como esse de Isaías podem nos ensinar que:
- Todos nós, como povo, não somos apenas vitimas. Pelo contrário, somos tão ou quase tão corruptos quanto aqueles que nos governam. Se não somos, é porque nos faltou oportunidade.
 - Talvez o sofrimento pelo que passamos ou venhamos passar é consequência dos nossos próprios pecados e das nossas próprias escolhas; e este poder ser sim, Deus punindo o seu povo por um pecado específico.
- Crises políticas, podem ser em alguma instância, Deus tratando com a nação para que essa aprenda que não há esperança em políticos e homens e que o único que pode redimir a sociedade é Cristo, porém não podemos esperar ver a plenitude disso sem que antes venha a consumação de todas as coisas.
- Talvez o nosso país esteja um caos porque o povo é imoral e porque cristãos se tornaram meros espectadores e são omissos em suas responsabilidades cristãs.

No passado, homens cristãos influenciaram países inteiros, transformaram economias, política e educação. A pergunta que fica é: onde foram parar esses homens? Não existem mais cristãos hoje? Todos tomaram a forma das nações pagãs? Penso mesmo é que já não há diferença entre o governo e o povo, entre a igreja e povo e o governo. Precisamos mesmo é orar por avivamento, para que nossos joelhos não sejam dobrados à força, da forma mais humilhante e estarrecedora. Deus tenha misericórdia de nós.

quarta-feira, 30 de setembro de 2015

01/10/15 - A casa de Jacó Abandonada: O Terror do Julgamento de Deus - Isaías 2.1-22

A casa de Jacó Abandonada:
O Terror do Julgamento de Deus
Isaías 2.1-22
Grande Ideia: O Senhor humilha aquele que se exalta; pois, só Ele é digno de louvor e exaltação.

Atribui-se a C.S. Lewis, a seguinte frase: “você não deve se perguntar se é uma pessoa orgulhosa; e sim, o quão orgulhoso você é.” A tese de Lewis é de que em certa medida todo homem é orgulho, alguns em maior escala e outros em menor escala, mas no final das contas, todos são orgulhosos.
A Bíblia condena claramente o homem altivo. Veja as seguintes passagens:
Provérbios 16.18: “A soberba precede a ruína, e a altivez do espírito, a queda.”
Provérbios 29.23: “A soberba do homem o abaterá, mais o humilde de espírito obterá honra.”
Lucas 18.14: “[...] porque todo o que se exalta será humilhado; mas o que se humilha será exaltado.”
Mateus 23.12: “Qualquer, pois, que a si mesmo se exaltar, será humilhado; e qualquer que a si mesmo se humilhar, será exaltado.”
Deus não suporta o homem orgulho. A humildade deve ser característica marcante em um Cristão; mas, sabemos que nem sempre o é. No entanto, este não é um problema exclusivamente nosso, moderno. O orgulho, a soberba, a altivez, são problemas presentes entre o povo de Deus desde antes da encarnação do Verbo.
Vejamos a situação da nação do sul, Judá e Jerusalém.
O povo eleito de Deus para ser como Deus, havia se tornado como todos os povos. Judá não conhecia o Senhor, seus lideres se envolveram com povos e rituais pagãos. A religiosidade de Judá não refletia a realidade da vida espiritual deles e Deus, por sua vez denuncia o pecado da nação e rejeita todo “culto” por parte da nação prostituta. No entanto, há uma palavra de esperança que no capítulo 1 alterna com a denúncia e sentença de Yahweh contra Judá. O capítulo 2.1-5 contrasta claramente com os versos posteriores, é uma promessa de esperança. No entanto, o verso cinco é uma exortação: “Vinde, ó casa de Jacó, e andemos na luz do Senhor.”
Neste ponto, fica a questão: por que Judá precisa aprender a andar na luz mesmo diante de uma palavra de esperança futura? A resposta é muito clara: o povo de Judá precisava aprender a andar na luz, porque embora houvesse esperança no futuro, o presente da nação era de rebeldia contra o Senhor; e tal postura, redundaria em juízo.
No capítulo 1, percebemos que a rebeldia de Judá residia na idolatria. No capítulo 2.6-22, percebemos que essa idolatria, era também, uma espécie de “culto de si mesmos”; Judá adorava suas próprias obras, suas conquistas e prosperidade. Eram “autossuficientes.” No entanto, todo orgulho de Judá, bem como suas conquistas, seriam reduzidos a nada; pois no ultimo dia, só o Senhor será exaltado.
Observando de mais perto, podemos dividir nossa passagem em três partes:
Is. 2.6-11: Satisfeitos, porém vazios;
Is 2.12-17: Altivo, porém abatido;
Is 2.18-22: Reduzidos às cavernas.
Nesta divisão, podemos observar bem a situação de Judá, bem como as consequências por seus pecados. O Senhor abandonou seu povo, e talvez não haja pior estado que este. No entanto, Judá não ficaria impune. Yahweh humilharia a nação soberba e se exaltaria. Os ídolos de Judá seriam destruídos e, o povo orgulhoso por suas conquistas e posses, buscariam refugio nas cavernas, no entanto, não há nada que possa deter o juízo terrível de Deus.
O verso 22 é um poderoso sumario da passagem: “Afastai-vos por do homem”. Segundo John Oswalt[1], Esse versículo esclarece que a passagem não poderia estar falando principalmente da idolatria. Ela não nos informa sobre o que “é feito dos ídolos”. Ao contrário, ela nos informa sobre o que será feito com o homem. A idolatria é um resultado, não uma causa. É a exaltação do homem que resulta em idolatria. O Problema é a tendência dos seres humanos de tornar-se o centro de todas as coisas e de explicar todos as coisas em termos de nós mesmos. Existe algum motivo para gloriar-se na humanidade? Absolutamente nenhum.
“Tu reduzes o homem ao pó e dizes: Tornai, filhos dos homens. Pois mil anos, aos teus olhos, são como a dia de ontem que se foi e como a vigília da noite. Tu os arrastas na torrente, são como um sono, como a relva que floresce de madrugada; de madrugada, viceja e floresce; a tarde murcha e seca. Pois somos consumidos pela tua ira e pelo teu furor, conturbados. Diante de ti pusestes as nossas iniquidades e, sob a luz do teu rosto, os nossos pecados ocultos.” Salmo 80.3-8

Conclusão:
De certa forma, o problema do homem sempre foi a “autossuficiência” – Desde o princípio Gn 3.5-6. Para John Piper, “Conhecimento do bem e do mal” é independência/autossuficiência. Adão e Eva decidiram por si mesmos o que era bom e oque era mal. Assim, comer da árvore, era uma declaração de independência de Deus.
 Mas, essa “independência”, só trouxe problemas ao homem:
 O pecado entrou no mundo;
 A morte entrou no mundo;
 Tanto o homem quanto a natureza estão debaixo da maldição do pecado;
 Há consequências terríveis por conta desta rebelião.
 Quem pode resolver essa situação? Somente Cristo. N’Ele, somos restaurados à comunhão com Deus; e, todo ira do Senhor contra o homem rebelde e orgulhoso, é aplacada por meio de seu sangue derramado na cruz. No entanto, o homem rebelde e “autossuficiente”, no ultimo dia perecerá. Submetamo-nos, portanto, à autoridade e governo de Deus.

Perguntas para reflexão:
1.      Por que Deus abandonou seu povo? Isaías 2.6-9.
2.      Por que o julgamento de Deus deveria cair sobre toda raça humana? Por que Judá não é diferente e o que ela deveria fazer sobre isso?
3.      Como Deus lida com o homem orgulhoso?
4.      Você é uma pessoa orgulhosa? Ou, segundo a lógica de Lewis, o quanto você é orgulhoso?
5.      O que você pode fazer para mudar?


Por
Ben-Hur Judah Lisboa Lefol Ramos




[1] OSWALT, John. Isaías. Cultura Cristã: São Paulo, SP, 2011.

quinta-feira, 24 de setembro de 2015

24/09/15 - Isaías Profetiza a Vinda do Reino de Cristo (A glória futura de Jerusalém) - Isaías 2.1-5

ESTUDO BÍBLICO NOS LARES
Estudo dirigido em Isaías 2.1-5
Tema: Isaías Profetiza a Vinda do Reino de Cristo (A glória futura de Jerusalém).

Exórdio:
Você acredita em promessas de políticos? Ou nas propagandas de produtos de beleza, emagrecimento, ou que garantem um corpo escultural com pouco esforço e em pouco tempo?
Muitas vezes ouvimos promessas de toda natureza. Mas nem sempre somos atraídos por essas promessas, pois quase nunca elas se cumprem da forma como foram apresentadas. Tudo aquilo que é prometido, gera em nós, via de regra, um sentimento de dúvida quanto ao seu cumprimento.
E quando falamos sobre igrejas que dizem resolver este ou aquele problema, condicionando o resultado à fé, à contribuição de qualquer natureza, ou ainda, à obrigação de Deus em fazer aquilo que desejamos?
De fato, não somos muito crédulos quando estamos tratando deste assunto.
Mas como agimos diante de promessas que nos são apresentadas através das Escrituras? Infelizmente, muitas vezes, somos tão incrédulos quanto na situação anterior. “Está escrito na Bíblia. Mas será que vai acontecer”?

Contexto:
Olhando para o livro do profeta Isaías, vemos que muitas promessas são feitas. Na verdade, não se tratam apenas de promessas, mas sim de profecias, pois narram fatos futuros que se cumpriram ou ainda se cumprirão. Mas vão acontecer.
Olhando para o capítulo 1, vemos Isaías, por ordem do Senhor, apontar o pecado da nação de Israel (1.2a; 4) e condenar o culto hipócrita que era prestado pelo povo (1.11; Am. 5.25-26).
Mas a partir do v. 18, há um convite ao arrependimento e uma promessa de juízo aos que não se arrependerem (v.20).
Entrando então no bloco que vai do capítulo 2 até o 4, vemos a descrição do futuro glorioso de Sião; depois seguem-se várias repreensões e anúncios de destruição dirigidos à pecadora Sião daquela época, e mais uma vez, estas repreensões e anúncios de destruição fazem ecoar a promessa de uma cidade de Deus, purificada pelo julgamento. Essa purificação independe da pecaminosidade do povo, mas será executada pela vontade soberana de Deus.

Grande Ideia:
Por isso podemos afirmar que “O PLANO DE DEUS PARA A RESTAURAÇÃO DO SEU POVO, DEPENDE TÃO SOMENTE DA SUA VONTADE SOBERANA”. (4)

Estrutura:
1-  A palavra é de Deus (1)
A profecia que Isaías está para proferir não era fruto de suas convicções ou do seu conhecimento teológico. Era Palavra de Deus por boca do profeta.
Essa concepção, no contexto do antigo testamento era algo muito sério e, por isso, era levada muito a sério.
(Dt. 18.18-22) – Moisés estava no fim da vida e precisava apresentar as credenciais daqueles que o sucederiam. Contudo, alguns comentaristas afirmam que este texto, mesmo tratando dos sucessores de Moisés, está apontado para Cristo, do qual Moisés e todos os outros profetas eram tipos.
O fato é que a Palavra de Deus dada a um profeta era extremamente séria. E o profeta não poderia se furtar da responsabilidade de dizer o que Deus mandou dizer.
Mas há muitos falsos profetas nos nossos dias dizendo, em nome de Deus, coisas que Deus não mandou dizer. E desconsideram, por completo, as consequências disso. Não creem no juízo do Deus Justo, cuja palavra não muda.

2-  A ação é de Deus (2-4)
Quando lemos o texto dos versos 2 e 3, entendemos que há um referencial a ser observado. E essa referência é o lugar onde Deus habita.
No contexto de Isaías, o monte da Casa do Senhor seria uma referência ao Monte Moriá, também conhecido como Sinai, onde foi edificado o Templo.
Devemos nos lembrar que, nesse contexto, o Templo representava ainda o local da habitação de Deus. Por essa razão, usando de forma figurada essa referência, tratando dos últimos dias, Isaías mostra que todas as nações se apresentariam diante de Deus.
Isso se dará por dois motivos: 1) todos estarão perante Deus para serem julgados por Ele (Rm. 14.10)​Tu, porém, por que julgas teu irmão? E tu, por que desprezas o teu? Pois todos compareceremos perante o tribunal de Deus.
; 2) uma demonstração da inserção dos povos gentios no meio do povo, passando a ser parte integrante desse povo (Jo. 1.11-12) Veio para o que era seu, e os seus não o receberam. ​Mas, a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, a saber, aos que creem no seu nome.

E o v. 4 encerra esse bloco mostrando o julgamento final e seus resultados: as nações serão corrigidas; as armas de guerra se tornarão como ferramentas agrícolas, que servem ao trabalho e não à guerra; e haverá paz entre as nações.
Essa descrição nos mostra a restauração de tudo que foi corrompido pelo pecado. 
At. 17.30-31 – Ora, não levou Deus em conta os tempos da ignorância; agora, porém, notifica aos homens que todos, em toda parte, se arrependam; ​porquanto estabeleceu um dia em que há de julgar o mundo com justiça, por meio de um varão que destinou e acreditou diante de todos, ressuscitando-o dentre os mortos.

E Deus fará tudo isso, em Cristo e por meio dele.

3-  A direção é dada por Deus (5)
Essa expressão “LUZ”, se referindo a Deus, aparece inúmeras vezes nas Escrituras. É uma referência ao fato de estarmos constantemente na presença de Deus, agindo segundo o conselho da sua vontade.
Veja o que diz o evangelista João (3.19-21).
Olhando para a carta de Paulo aos Efésios, vemos o seguinte: (5.8).
Diante dessas exortações, como servos de Deus, devemos buscar andarmos na luz, pois isso é o que se exige daquele que foi resgatado do império das trevas.

Conclusão:
Diante de todas essas colocações podemos concluir que a profecia que Isaias apresenta nesse primeiro bloco do capítulo 2, diz respeito à vinda do Reino de Cristo.
1-   (v2) O monte da Casa do Senhor – uma referência ao Templo literal que apontava para o templo espiritual, que é a igreja do NT.
2-   (v2-3) Afluirão todas as nações – uma referência aos gentios alcançados pela graça. (Rm. 14.10-11).
3-   (v4) Ele julgará entre os povos – uma referência a Jesus como o Supremo Juiz  

Aplicações:
Precisamos estar atentos à nossa postura diante das promessas de Deus para o seu povo, não para exigirmos que Ele as cumpra o que prometeu, com se vê por aí, nem mesmo para cobrarmos d’Ele aquilo que achamos ter por direito.
Nossa postura diante de Deus deve ser de submissão e reverência. Mas muitas pessoas têm sido estimuladas a tratar Deus como um amuleto.
Não nos preocupamos mais em prestar um culto a Deus que agrade a Deus. Procuramos um culto que agrade a nós e, às vezes, convidamos Deus para participar dele conosco e desejamos boas-vindas ao dono da casa.

Precisamos estar atentos às promessas de Deus, tão somente, porque Ele é Deus.
Lembrando das palavras de Moisés: “Deus não é homem para que minta, nem filho de homem para que se arrependa. Acaso ele fala, e deixa de agir? Acaso promete, e deixa de cumprir?” (Nm. 23.19).

quinta-feira, 17 de setembro de 2015

17/09/15 - Denúncia, Apelo e Promessa de Deus - Isaías 1.1-31

ESTUDO BÍBLICO NOS LARES
Estudo dirigido em Isaías 1.1-31
Tema: Denúncia, Apelo e Promessa de Deus
Grande Ideia: O Santo de Israel expõe a natureza do pecado do seu povo e suas consequências em julgamento.
Estrutura:
Is 1.2-9 – Deus expõe a rebelião e a consequência do pecado do seu povo
Is 1.10-20 – Deus condena a religiosidade e aponta um caminho de graça
a)      Uma religião inadequada Is 1.10-15
b)      Exortação a Santidade e Promessa do Evangelho Is 1.16-20
Is 1.21-31 – As respostas de Deus às realidades presentes
a)      O anúncio do juízo Is 1.21-26
b)      O destino dos ímpios Is 1.27-31

Contexto
O chamado para o ministério profético do profeta Isaías se da aproximadamente em 740 a.C., ano da morte do rei Uzias (Is 6.1). Neste tempo, Deus, por meio de seu profeta, denunciaria os pecados de Judá e Jerusalém, que durante um longo período de paz e prosperidade haviam estado ocultos. Apesar da “boa aparência”, Israel estava em rebelião contra o Senhor e, certamente, não ficaria impune.

Is 1.2-9 – Deus expõe a rebelião e a consequência do pecado do seu povo
Em um primeiro momento, a profecia é uma exposição do pecado de Israel. Seus pecados estavam ocultos apenas aos homens, não à Deus. O Senhor conhecia não apenas as atitudes reprováveis de seu povo, mas, suas mentes e corações. Por isso, aponta com precisão quais eram os pecados de seu povo.
Segundo o profeta, o povo com o qual YAHWEH havia estabelecido um pacto de graça, estava em rebelião contra o Senhor. As expressões “abandonaram o Senhor” e “voltaram para trás”, bem como a provável referência ao culto pagão prestado a divindades “que por natureza não são” (Gl 4.8) nos versos 4, 29-30, identificam o pecado de Israel, ao menos nesta parte da passagem, como o pecado de idolatria. Textos posteriores como 28.20; 29.25,26; 31.16; Jr 1.16; 9.13,14; Ez 20.8; Os 4.10 testificam a favor desta interpretação.
No contexto cultura brasileiro, atribui-se idolatria apenas à prática religiosa do católico romano, por isso, nos sentimos impelidos a condenar e aplicar essa passagem apenas àquela prática e comportamento religioso, que de fato é reprovável. No entanto, não podemos ser tão simplistas assim. Timothy Keller em seu livro “Gálatas Para Você” define ídolo como tudo aquilo em que depositamos a esperança de vida e de satisfação que não seja Cristo[1]. Por isso, a idolatria está presente em outros contextos, que não somente o contexto católico romano. A partir da perspectiva de Keller, a idolatria pode estar inclusive dentro de igrejas, famílias e indivíduos adeptos do protestantismo histórico reformado. Esta era a realidade da nação de Israel.[2]
A idolatria de Israel é, portanto, o motivo do tom de desalento e lamento presentes na passagem. O pecado de Judá e Jerusalém era motivo de tristeza para Deus. Em sua ignorância em relação ao Senhor, Israel é posta abaixo do nível de um animal, que por sua vez, era capaz de reconhecer seu dono; no entanto, Israel não conhecia seu Senhor. A seriedade da acusação fica evidente a partir da análise cuidadosa do verbo conhecer, que nas Escrituras, possui também o sentido de um relacionamento íntimo, afetuoso. De certa forma, o texto nos diz que um animal era capaz de amar e nutrir maior afeto pelo seu dono do que Israel pelo Senhor. Israel desprezava o Senhor.
No entanto, por ter desprezado o Senhor e desconsiderado a severidade (Rm 11.22), bem como as suas promessas (Dt 30.19), Israel sofreria as consequências de seus atos abomináveis. Os versos 5 – 9 descrevem as consequências políticas sofridas pela nação por conta de sua rebeldia. Tais versos são proféticos, e descrevem as consequências sofridas pela nação de Israel após a invasão do império Assírio no ano 701 a.C. A nação ficaria despojada, desolada e abandonada. No entanto, o verso cinco nos mostra que a invasão Assíria, embora tivesse o objetivo de punir, objetivava também conduzir a nação ao arrependimento. Israel deveria compreender que o seu sofrimento era consequência do seu próprio pecado; e então, arrepender-se e buscar a restauração de seu relacionamento com o Senhor. No entanto, mesmo debaixo de tanto sofrimento, o povo continuou obstinado em seus próprios caminhos.
 Considera-se aqui um ponto de reflexão que traz luz acerca do sofrimento humano. De certa forma, todo sofrimento é consequência do pecado original, do qual herdamos tanto a culpa quanto a corrupção que nossos pais – Adão e Eva – nos legaram. No entanto, nem todo sofrimento é consequência de um pecado específico ou proveniente de imoralidade. Entretanto, a passagem nos mostra que há sim, dores causadas por pecados específicos e que o sofrimento é algo que deve nos conduzir a reflexão. Atribuir todo mal a pecados específicos é extremo; mas, não considerar o pecado em momento algum como causa do sofrimento, é o extremo oposto. Ou seja, um erro que pode causar sérios prejuízos.
Por fim, a comparação do verso nove é deveras impactante. Depois de reduzir Israel a um status menor do que de um animal, Israel é comparada a Sodoma e Gomorra. No entanto, a comparação aqui possui um aspecto positivo. Israel havia ofendido de tal forma o Senhor que, não fosse sua misericórdia, a muito teria sido extinguida. 

 Is 1.10-20 – Deus condena a religiosidade e aponta um caminho de graça
Os versos seguem, deixam claro que a raiz dos pecados de Israel era a sua “religiosidade”. Zelosos de uma religiosidade meramente estética, a vida litúrgica dos israelitas não refletia sua realidade moral e espiritual. Havia um conflito entre uma religiosidade meramente estética e a pureza ética.
O texto mostra uma nação que era zelosa em relação às leis cerimoniais (vs. 11-15), mas que a muito tempo havia se esquecido das leis morais e até mesmo civis. A religiosidade de Israel era, portanto, hipócrita.
No verso 10 a comparação com Sodoma e Gomorra retorna, no entanto, a referência agora não é em relação à preservação da nação e a extinção das duas cidades e sim, à moral do povo de Judá. David Jackman afirma que esta é a comparação mais atormentadora presente no capítulo[3]. Segundo Jackman, não há diferença moral entre a nação de Israel e as cidades de Sodoma e Gomorra.  

a)      Uma religião inadequada Is 1.10-15

Mais especificamente, os versos 11-15 nos mostra a maneira dura e incisiva com que Yahweh rejeita o culto oferecido a Ele pelos Israelitas. O Senhor já não podia suportar seus ajuntamentos (vs. 13); para Ele, tais cerimônias eram motivo de sofrimento (vs. 14). Isso porque a religiosidade estética dos israelitas estava muito distante de sua prática. As mãos dos Israelitas estavam cheias de sangue (vs. 15), eram maus (vs. 13), haviam se esquecido de suas responsabilidades sociais, esqueceram-se dos pobres e das viúvas. Por isso, porque a religião deles era divorciada de uma vida prática é que sua religião era hipócrita.

b)        Exortação a Santidade e Promessa do Evangelho Is 1.16-20

Note, porém, o movimento da ameaça do julgamento para as promessas do evangelho. Deus está dizendo: “não tem que ser assim”. Dos versos 16 a 20, vemos o Senhor valendo-se de uma linguagem pactual, onde há promessa de redenção mediante a mudança de conduta e arrependimento e, ameaça de julgamento mediante a obstinação. O que está proposto à nação é a vida caso escolham a vida e, a morte, caso insistam em suas práticas imorais (Dt 30.19). O texto chama atenção ao fato de que toda escolha implica em alguma consequência.

Is 1.21-31 – As respostas de Deus às realidades presentes
A passagem nos mostra que a realidade da nação de Israel é ruim: “seus príncipes são rebeldes e companheiros de ladrões; cada um deles ama o suborno e corre atrás de recompensas. Não defendem o órfão, e não chega perante eles a causa das viúvas” (vs. 23). Diante desta realidade, o Senhor da uma resposta.

a)      O anúncio do juízo Is 1.21-26
Deus se vingaria de seus inimigos. O que nos chama a atenção, é o fato de que inimigos nesta passagem são os próprios Israelitas; povo com quem Yahweh se relacionava pactualmente. No entanto, neste movimento da ameaça do julgamento às promessas do evangelho, há esperança de redenção, que procede apenas da graciosa intervenção divina. Nesta passagem, Deus é aquele que dispensa tanto o juízo quanto graça e misericórdia. D’Ele procede a justiça e a retidão. Mesmo em um estado de inimizade, Deus se move em direção ao seu povo com graça, conduzindo-os a uma resposta: arrependimento.

b)      O destino dos ímpios Is 1.27-31
Is 1.29-31 referem-se à região da Cananéia, com sua "mágica imitativa" e cultos à fertilidade, tudo que está pronto para arder em chamas quando Deus vier para julgar. Tudo aquilo que foi adorado como criador sendo criatura pelo povo infiel seria, juntamente com o povo, destruído em julgamento. O verso 31 descreve a severidade e proporção do julgamento ao afirmar que não haverá quem apague o fogo ardente que consumirá tanto o forte quanto a sua obra.
O destino dos ímpios, portanto, é terrível. Àqueles que permanecerem obstinados em seus pecados só lhes resta uma coisa: juízo.

Conclusão:
Concluímos este estudo nas palavras de David Jackman:
“Somente um comprometimento sincero com o Senhor assegura verdadeiros valores na vida. A impiedade é sempre revelada em comportamento, não em religiosidade externa. Quando o compromisso declina, valores são rapidamente erodidos. Como correspondemos aos nossos compromissos pactuais (João 14.15,23)? Existem raízes de irrealidade em nossa aparente devoção?”[4]

Perguntas para reflexão:
1)            Is 1.2-4 - Quais são as acusações que Deus levanta contra o seu povo, às quais ele convoca toda a criação a ouvir?
2)            Por que podemos ver uma situação de desolação nacional sobre a nação de Israel?

3)            Nos versos 16 a 17 parece que Deus está chamando o povo de Judá à conversão. Como isso é possível, sendo que eles faziam parte do povo com quem Deus havia estabelecido um pacto? Será que há possibilidade de pregarmos sobre a necessidade de conversão para “crentes”? Há incrédulos membros de igrejas evangélicas? Será que você é uma dessas pessoas?

4)            Qual a única alternativa diante da ameaça do julgamento?


5)            Qual o futuro daqueles que insistem em sua rebelião?

Referencial Bibliográfico
JACKMAN, David. Teaching Isaiah. London: Proclamation Trust Media. 2010, 304 p.
KELLER, Timothy. Gálatas para você. São Paulo: Edições Vida Nova. 2015, 205 p.
OSWALT, John N. Isaías, volume 1. São Paulo: Cultura Cristã. 2011, 848 p.




[1] KELLER, Timothy, 2015, p. 110.
[2] É claro que aqui usamos de anacronismo para descrever a situação espiritual da nação de Israel, tendo em vista que sendo eles povo da aliança, envolveram-se com religiosidade pagã e idólatra.
[3] JACKMAN, David. 2010, p. 67.
[4] JACKMAN, David. 2010, p. 68-69.