quarta-feira, 30 de setembro de 2015

01/10/15 - A casa de Jacó Abandonada: O Terror do Julgamento de Deus - Isaías 2.1-22

A casa de Jacó Abandonada:
O Terror do Julgamento de Deus
Isaías 2.1-22
Grande Ideia: O Senhor humilha aquele que se exalta; pois, só Ele é digno de louvor e exaltação.

Atribui-se a C.S. Lewis, a seguinte frase: “você não deve se perguntar se é uma pessoa orgulhosa; e sim, o quão orgulhoso você é.” A tese de Lewis é de que em certa medida todo homem é orgulho, alguns em maior escala e outros em menor escala, mas no final das contas, todos são orgulhosos.
A Bíblia condena claramente o homem altivo. Veja as seguintes passagens:
Provérbios 16.18: “A soberba precede a ruína, e a altivez do espírito, a queda.”
Provérbios 29.23: “A soberba do homem o abaterá, mais o humilde de espírito obterá honra.”
Lucas 18.14: “[...] porque todo o que se exalta será humilhado; mas o que se humilha será exaltado.”
Mateus 23.12: “Qualquer, pois, que a si mesmo se exaltar, será humilhado; e qualquer que a si mesmo se humilhar, será exaltado.”
Deus não suporta o homem orgulho. A humildade deve ser característica marcante em um Cristão; mas, sabemos que nem sempre o é. No entanto, este não é um problema exclusivamente nosso, moderno. O orgulho, a soberba, a altivez, são problemas presentes entre o povo de Deus desde antes da encarnação do Verbo.
Vejamos a situação da nação do sul, Judá e Jerusalém.
O povo eleito de Deus para ser como Deus, havia se tornado como todos os povos. Judá não conhecia o Senhor, seus lideres se envolveram com povos e rituais pagãos. A religiosidade de Judá não refletia a realidade da vida espiritual deles e Deus, por sua vez denuncia o pecado da nação e rejeita todo “culto” por parte da nação prostituta. No entanto, há uma palavra de esperança que no capítulo 1 alterna com a denúncia e sentença de Yahweh contra Judá. O capítulo 2.1-5 contrasta claramente com os versos posteriores, é uma promessa de esperança. No entanto, o verso cinco é uma exortação: “Vinde, ó casa de Jacó, e andemos na luz do Senhor.”
Neste ponto, fica a questão: por que Judá precisa aprender a andar na luz mesmo diante de uma palavra de esperança futura? A resposta é muito clara: o povo de Judá precisava aprender a andar na luz, porque embora houvesse esperança no futuro, o presente da nação era de rebeldia contra o Senhor; e tal postura, redundaria em juízo.
No capítulo 1, percebemos que a rebeldia de Judá residia na idolatria. No capítulo 2.6-22, percebemos que essa idolatria, era também, uma espécie de “culto de si mesmos”; Judá adorava suas próprias obras, suas conquistas e prosperidade. Eram “autossuficientes.” No entanto, todo orgulho de Judá, bem como suas conquistas, seriam reduzidos a nada; pois no ultimo dia, só o Senhor será exaltado.
Observando de mais perto, podemos dividir nossa passagem em três partes:
Is. 2.6-11: Satisfeitos, porém vazios;
Is 2.12-17: Altivo, porém abatido;
Is 2.18-22: Reduzidos às cavernas.
Nesta divisão, podemos observar bem a situação de Judá, bem como as consequências por seus pecados. O Senhor abandonou seu povo, e talvez não haja pior estado que este. No entanto, Judá não ficaria impune. Yahweh humilharia a nação soberba e se exaltaria. Os ídolos de Judá seriam destruídos e, o povo orgulhoso por suas conquistas e posses, buscariam refugio nas cavernas, no entanto, não há nada que possa deter o juízo terrível de Deus.
O verso 22 é um poderoso sumario da passagem: “Afastai-vos por do homem”. Segundo John Oswalt[1], Esse versículo esclarece que a passagem não poderia estar falando principalmente da idolatria. Ela não nos informa sobre o que “é feito dos ídolos”. Ao contrário, ela nos informa sobre o que será feito com o homem. A idolatria é um resultado, não uma causa. É a exaltação do homem que resulta em idolatria. O Problema é a tendência dos seres humanos de tornar-se o centro de todas as coisas e de explicar todos as coisas em termos de nós mesmos. Existe algum motivo para gloriar-se na humanidade? Absolutamente nenhum.
“Tu reduzes o homem ao pó e dizes: Tornai, filhos dos homens. Pois mil anos, aos teus olhos, são como a dia de ontem que se foi e como a vigília da noite. Tu os arrastas na torrente, são como um sono, como a relva que floresce de madrugada; de madrugada, viceja e floresce; a tarde murcha e seca. Pois somos consumidos pela tua ira e pelo teu furor, conturbados. Diante de ti pusestes as nossas iniquidades e, sob a luz do teu rosto, os nossos pecados ocultos.” Salmo 80.3-8

Conclusão:
De certa forma, o problema do homem sempre foi a “autossuficiência” – Desde o princípio Gn 3.5-6. Para John Piper, “Conhecimento do bem e do mal” é independência/autossuficiência. Adão e Eva decidiram por si mesmos o que era bom e oque era mal. Assim, comer da árvore, era uma declaração de independência de Deus.
 Mas, essa “independência”, só trouxe problemas ao homem:
 O pecado entrou no mundo;
 A morte entrou no mundo;
 Tanto o homem quanto a natureza estão debaixo da maldição do pecado;
 Há consequências terríveis por conta desta rebelião.
 Quem pode resolver essa situação? Somente Cristo. N’Ele, somos restaurados à comunhão com Deus; e, todo ira do Senhor contra o homem rebelde e orgulhoso, é aplacada por meio de seu sangue derramado na cruz. No entanto, o homem rebelde e “autossuficiente”, no ultimo dia perecerá. Submetamo-nos, portanto, à autoridade e governo de Deus.

Perguntas para reflexão:
1.      Por que Deus abandonou seu povo? Isaías 2.6-9.
2.      Por que o julgamento de Deus deveria cair sobre toda raça humana? Por que Judá não é diferente e o que ela deveria fazer sobre isso?
3.      Como Deus lida com o homem orgulhoso?
4.      Você é uma pessoa orgulhosa? Ou, segundo a lógica de Lewis, o quanto você é orgulhoso?
5.      O que você pode fazer para mudar?


Por
Ben-Hur Judah Lisboa Lefol Ramos




[1] OSWALT, John. Isaías. Cultura Cristã: São Paulo, SP, 2011.

quinta-feira, 24 de setembro de 2015

24/09/15 - Isaías Profetiza a Vinda do Reino de Cristo (A glória futura de Jerusalém) - Isaías 2.1-5

ESTUDO BÍBLICO NOS LARES
Estudo dirigido em Isaías 2.1-5
Tema: Isaías Profetiza a Vinda do Reino de Cristo (A glória futura de Jerusalém).

Exórdio:
Você acredita em promessas de políticos? Ou nas propagandas de produtos de beleza, emagrecimento, ou que garantem um corpo escultural com pouco esforço e em pouco tempo?
Muitas vezes ouvimos promessas de toda natureza. Mas nem sempre somos atraídos por essas promessas, pois quase nunca elas se cumprem da forma como foram apresentadas. Tudo aquilo que é prometido, gera em nós, via de regra, um sentimento de dúvida quanto ao seu cumprimento.
E quando falamos sobre igrejas que dizem resolver este ou aquele problema, condicionando o resultado à fé, à contribuição de qualquer natureza, ou ainda, à obrigação de Deus em fazer aquilo que desejamos?
De fato, não somos muito crédulos quando estamos tratando deste assunto.
Mas como agimos diante de promessas que nos são apresentadas através das Escrituras? Infelizmente, muitas vezes, somos tão incrédulos quanto na situação anterior. “Está escrito na Bíblia. Mas será que vai acontecer”?

Contexto:
Olhando para o livro do profeta Isaías, vemos que muitas promessas são feitas. Na verdade, não se tratam apenas de promessas, mas sim de profecias, pois narram fatos futuros que se cumpriram ou ainda se cumprirão. Mas vão acontecer.
Olhando para o capítulo 1, vemos Isaías, por ordem do Senhor, apontar o pecado da nação de Israel (1.2a; 4) e condenar o culto hipócrita que era prestado pelo povo (1.11; Am. 5.25-26).
Mas a partir do v. 18, há um convite ao arrependimento e uma promessa de juízo aos que não se arrependerem (v.20).
Entrando então no bloco que vai do capítulo 2 até o 4, vemos a descrição do futuro glorioso de Sião; depois seguem-se várias repreensões e anúncios de destruição dirigidos à pecadora Sião daquela época, e mais uma vez, estas repreensões e anúncios de destruição fazem ecoar a promessa de uma cidade de Deus, purificada pelo julgamento. Essa purificação independe da pecaminosidade do povo, mas será executada pela vontade soberana de Deus.

Grande Ideia:
Por isso podemos afirmar que “O PLANO DE DEUS PARA A RESTAURAÇÃO DO SEU POVO, DEPENDE TÃO SOMENTE DA SUA VONTADE SOBERANA”. (4)

Estrutura:
1-  A palavra é de Deus (1)
A profecia que Isaías está para proferir não era fruto de suas convicções ou do seu conhecimento teológico. Era Palavra de Deus por boca do profeta.
Essa concepção, no contexto do antigo testamento era algo muito sério e, por isso, era levada muito a sério.
(Dt. 18.18-22) – Moisés estava no fim da vida e precisava apresentar as credenciais daqueles que o sucederiam. Contudo, alguns comentaristas afirmam que este texto, mesmo tratando dos sucessores de Moisés, está apontado para Cristo, do qual Moisés e todos os outros profetas eram tipos.
O fato é que a Palavra de Deus dada a um profeta era extremamente séria. E o profeta não poderia se furtar da responsabilidade de dizer o que Deus mandou dizer.
Mas há muitos falsos profetas nos nossos dias dizendo, em nome de Deus, coisas que Deus não mandou dizer. E desconsideram, por completo, as consequências disso. Não creem no juízo do Deus Justo, cuja palavra não muda.

2-  A ação é de Deus (2-4)
Quando lemos o texto dos versos 2 e 3, entendemos que há um referencial a ser observado. E essa referência é o lugar onde Deus habita.
No contexto de Isaías, o monte da Casa do Senhor seria uma referência ao Monte Moriá, também conhecido como Sinai, onde foi edificado o Templo.
Devemos nos lembrar que, nesse contexto, o Templo representava ainda o local da habitação de Deus. Por essa razão, usando de forma figurada essa referência, tratando dos últimos dias, Isaías mostra que todas as nações se apresentariam diante de Deus.
Isso se dará por dois motivos: 1) todos estarão perante Deus para serem julgados por Ele (Rm. 14.10)​Tu, porém, por que julgas teu irmão? E tu, por que desprezas o teu? Pois todos compareceremos perante o tribunal de Deus.
; 2) uma demonstração da inserção dos povos gentios no meio do povo, passando a ser parte integrante desse povo (Jo. 1.11-12) Veio para o que era seu, e os seus não o receberam. ​Mas, a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, a saber, aos que creem no seu nome.

E o v. 4 encerra esse bloco mostrando o julgamento final e seus resultados: as nações serão corrigidas; as armas de guerra se tornarão como ferramentas agrícolas, que servem ao trabalho e não à guerra; e haverá paz entre as nações.
Essa descrição nos mostra a restauração de tudo que foi corrompido pelo pecado. 
At. 17.30-31 – Ora, não levou Deus em conta os tempos da ignorância; agora, porém, notifica aos homens que todos, em toda parte, se arrependam; ​porquanto estabeleceu um dia em que há de julgar o mundo com justiça, por meio de um varão que destinou e acreditou diante de todos, ressuscitando-o dentre os mortos.

E Deus fará tudo isso, em Cristo e por meio dele.

3-  A direção é dada por Deus (5)
Essa expressão “LUZ”, se referindo a Deus, aparece inúmeras vezes nas Escrituras. É uma referência ao fato de estarmos constantemente na presença de Deus, agindo segundo o conselho da sua vontade.
Veja o que diz o evangelista João (3.19-21).
Olhando para a carta de Paulo aos Efésios, vemos o seguinte: (5.8).
Diante dessas exortações, como servos de Deus, devemos buscar andarmos na luz, pois isso é o que se exige daquele que foi resgatado do império das trevas.

Conclusão:
Diante de todas essas colocações podemos concluir que a profecia que Isaias apresenta nesse primeiro bloco do capítulo 2, diz respeito à vinda do Reino de Cristo.
1-   (v2) O monte da Casa do Senhor – uma referência ao Templo literal que apontava para o templo espiritual, que é a igreja do NT.
2-   (v2-3) Afluirão todas as nações – uma referência aos gentios alcançados pela graça. (Rm. 14.10-11).
3-   (v4) Ele julgará entre os povos – uma referência a Jesus como o Supremo Juiz  

Aplicações:
Precisamos estar atentos à nossa postura diante das promessas de Deus para o seu povo, não para exigirmos que Ele as cumpra o que prometeu, com se vê por aí, nem mesmo para cobrarmos d’Ele aquilo que achamos ter por direito.
Nossa postura diante de Deus deve ser de submissão e reverência. Mas muitas pessoas têm sido estimuladas a tratar Deus como um amuleto.
Não nos preocupamos mais em prestar um culto a Deus que agrade a Deus. Procuramos um culto que agrade a nós e, às vezes, convidamos Deus para participar dele conosco e desejamos boas-vindas ao dono da casa.

Precisamos estar atentos às promessas de Deus, tão somente, porque Ele é Deus.
Lembrando das palavras de Moisés: “Deus não é homem para que minta, nem filho de homem para que se arrependa. Acaso ele fala, e deixa de agir? Acaso promete, e deixa de cumprir?” (Nm. 23.19).

quinta-feira, 17 de setembro de 2015

17/09/15 - Denúncia, Apelo e Promessa de Deus - Isaías 1.1-31

ESTUDO BÍBLICO NOS LARES
Estudo dirigido em Isaías 1.1-31
Tema: Denúncia, Apelo e Promessa de Deus
Grande Ideia: O Santo de Israel expõe a natureza do pecado do seu povo e suas consequências em julgamento.
Estrutura:
Is 1.2-9 – Deus expõe a rebelião e a consequência do pecado do seu povo
Is 1.10-20 – Deus condena a religiosidade e aponta um caminho de graça
a)      Uma religião inadequada Is 1.10-15
b)      Exortação a Santidade e Promessa do Evangelho Is 1.16-20
Is 1.21-31 – As respostas de Deus às realidades presentes
a)      O anúncio do juízo Is 1.21-26
b)      O destino dos ímpios Is 1.27-31

Contexto
O chamado para o ministério profético do profeta Isaías se da aproximadamente em 740 a.C., ano da morte do rei Uzias (Is 6.1). Neste tempo, Deus, por meio de seu profeta, denunciaria os pecados de Judá e Jerusalém, que durante um longo período de paz e prosperidade haviam estado ocultos. Apesar da “boa aparência”, Israel estava em rebelião contra o Senhor e, certamente, não ficaria impune.

Is 1.2-9 – Deus expõe a rebelião e a consequência do pecado do seu povo
Em um primeiro momento, a profecia é uma exposição do pecado de Israel. Seus pecados estavam ocultos apenas aos homens, não à Deus. O Senhor conhecia não apenas as atitudes reprováveis de seu povo, mas, suas mentes e corações. Por isso, aponta com precisão quais eram os pecados de seu povo.
Segundo o profeta, o povo com o qual YAHWEH havia estabelecido um pacto de graça, estava em rebelião contra o Senhor. As expressões “abandonaram o Senhor” e “voltaram para trás”, bem como a provável referência ao culto pagão prestado a divindades “que por natureza não são” (Gl 4.8) nos versos 4, 29-30, identificam o pecado de Israel, ao menos nesta parte da passagem, como o pecado de idolatria. Textos posteriores como 28.20; 29.25,26; 31.16; Jr 1.16; 9.13,14; Ez 20.8; Os 4.10 testificam a favor desta interpretação.
No contexto cultura brasileiro, atribui-se idolatria apenas à prática religiosa do católico romano, por isso, nos sentimos impelidos a condenar e aplicar essa passagem apenas àquela prática e comportamento religioso, que de fato é reprovável. No entanto, não podemos ser tão simplistas assim. Timothy Keller em seu livro “Gálatas Para Você” define ídolo como tudo aquilo em que depositamos a esperança de vida e de satisfação que não seja Cristo[1]. Por isso, a idolatria está presente em outros contextos, que não somente o contexto católico romano. A partir da perspectiva de Keller, a idolatria pode estar inclusive dentro de igrejas, famílias e indivíduos adeptos do protestantismo histórico reformado. Esta era a realidade da nação de Israel.[2]
A idolatria de Israel é, portanto, o motivo do tom de desalento e lamento presentes na passagem. O pecado de Judá e Jerusalém era motivo de tristeza para Deus. Em sua ignorância em relação ao Senhor, Israel é posta abaixo do nível de um animal, que por sua vez, era capaz de reconhecer seu dono; no entanto, Israel não conhecia seu Senhor. A seriedade da acusação fica evidente a partir da análise cuidadosa do verbo conhecer, que nas Escrituras, possui também o sentido de um relacionamento íntimo, afetuoso. De certa forma, o texto nos diz que um animal era capaz de amar e nutrir maior afeto pelo seu dono do que Israel pelo Senhor. Israel desprezava o Senhor.
No entanto, por ter desprezado o Senhor e desconsiderado a severidade (Rm 11.22), bem como as suas promessas (Dt 30.19), Israel sofreria as consequências de seus atos abomináveis. Os versos 5 – 9 descrevem as consequências políticas sofridas pela nação por conta de sua rebeldia. Tais versos são proféticos, e descrevem as consequências sofridas pela nação de Israel após a invasão do império Assírio no ano 701 a.C. A nação ficaria despojada, desolada e abandonada. No entanto, o verso cinco nos mostra que a invasão Assíria, embora tivesse o objetivo de punir, objetivava também conduzir a nação ao arrependimento. Israel deveria compreender que o seu sofrimento era consequência do seu próprio pecado; e então, arrepender-se e buscar a restauração de seu relacionamento com o Senhor. No entanto, mesmo debaixo de tanto sofrimento, o povo continuou obstinado em seus próprios caminhos.
 Considera-se aqui um ponto de reflexão que traz luz acerca do sofrimento humano. De certa forma, todo sofrimento é consequência do pecado original, do qual herdamos tanto a culpa quanto a corrupção que nossos pais – Adão e Eva – nos legaram. No entanto, nem todo sofrimento é consequência de um pecado específico ou proveniente de imoralidade. Entretanto, a passagem nos mostra que há sim, dores causadas por pecados específicos e que o sofrimento é algo que deve nos conduzir a reflexão. Atribuir todo mal a pecados específicos é extremo; mas, não considerar o pecado em momento algum como causa do sofrimento, é o extremo oposto. Ou seja, um erro que pode causar sérios prejuízos.
Por fim, a comparação do verso nove é deveras impactante. Depois de reduzir Israel a um status menor do que de um animal, Israel é comparada a Sodoma e Gomorra. No entanto, a comparação aqui possui um aspecto positivo. Israel havia ofendido de tal forma o Senhor que, não fosse sua misericórdia, a muito teria sido extinguida. 

 Is 1.10-20 – Deus condena a religiosidade e aponta um caminho de graça
Os versos seguem, deixam claro que a raiz dos pecados de Israel era a sua “religiosidade”. Zelosos de uma religiosidade meramente estética, a vida litúrgica dos israelitas não refletia sua realidade moral e espiritual. Havia um conflito entre uma religiosidade meramente estética e a pureza ética.
O texto mostra uma nação que era zelosa em relação às leis cerimoniais (vs. 11-15), mas que a muito tempo havia se esquecido das leis morais e até mesmo civis. A religiosidade de Israel era, portanto, hipócrita.
No verso 10 a comparação com Sodoma e Gomorra retorna, no entanto, a referência agora não é em relação à preservação da nação e a extinção das duas cidades e sim, à moral do povo de Judá. David Jackman afirma que esta é a comparação mais atormentadora presente no capítulo[3]. Segundo Jackman, não há diferença moral entre a nação de Israel e as cidades de Sodoma e Gomorra.  

a)      Uma religião inadequada Is 1.10-15

Mais especificamente, os versos 11-15 nos mostra a maneira dura e incisiva com que Yahweh rejeita o culto oferecido a Ele pelos Israelitas. O Senhor já não podia suportar seus ajuntamentos (vs. 13); para Ele, tais cerimônias eram motivo de sofrimento (vs. 14). Isso porque a religiosidade estética dos israelitas estava muito distante de sua prática. As mãos dos Israelitas estavam cheias de sangue (vs. 15), eram maus (vs. 13), haviam se esquecido de suas responsabilidades sociais, esqueceram-se dos pobres e das viúvas. Por isso, porque a religião deles era divorciada de uma vida prática é que sua religião era hipócrita.

b)        Exortação a Santidade e Promessa do Evangelho Is 1.16-20

Note, porém, o movimento da ameaça do julgamento para as promessas do evangelho. Deus está dizendo: “não tem que ser assim”. Dos versos 16 a 20, vemos o Senhor valendo-se de uma linguagem pactual, onde há promessa de redenção mediante a mudança de conduta e arrependimento e, ameaça de julgamento mediante a obstinação. O que está proposto à nação é a vida caso escolham a vida e, a morte, caso insistam em suas práticas imorais (Dt 30.19). O texto chama atenção ao fato de que toda escolha implica em alguma consequência.

Is 1.21-31 – As respostas de Deus às realidades presentes
A passagem nos mostra que a realidade da nação de Israel é ruim: “seus príncipes são rebeldes e companheiros de ladrões; cada um deles ama o suborno e corre atrás de recompensas. Não defendem o órfão, e não chega perante eles a causa das viúvas” (vs. 23). Diante desta realidade, o Senhor da uma resposta.

a)      O anúncio do juízo Is 1.21-26
Deus se vingaria de seus inimigos. O que nos chama a atenção, é o fato de que inimigos nesta passagem são os próprios Israelitas; povo com quem Yahweh se relacionava pactualmente. No entanto, neste movimento da ameaça do julgamento às promessas do evangelho, há esperança de redenção, que procede apenas da graciosa intervenção divina. Nesta passagem, Deus é aquele que dispensa tanto o juízo quanto graça e misericórdia. D’Ele procede a justiça e a retidão. Mesmo em um estado de inimizade, Deus se move em direção ao seu povo com graça, conduzindo-os a uma resposta: arrependimento.

b)      O destino dos ímpios Is 1.27-31
Is 1.29-31 referem-se à região da Cananéia, com sua "mágica imitativa" e cultos à fertilidade, tudo que está pronto para arder em chamas quando Deus vier para julgar. Tudo aquilo que foi adorado como criador sendo criatura pelo povo infiel seria, juntamente com o povo, destruído em julgamento. O verso 31 descreve a severidade e proporção do julgamento ao afirmar que não haverá quem apague o fogo ardente que consumirá tanto o forte quanto a sua obra.
O destino dos ímpios, portanto, é terrível. Àqueles que permanecerem obstinados em seus pecados só lhes resta uma coisa: juízo.

Conclusão:
Concluímos este estudo nas palavras de David Jackman:
“Somente um comprometimento sincero com o Senhor assegura verdadeiros valores na vida. A impiedade é sempre revelada em comportamento, não em religiosidade externa. Quando o compromisso declina, valores são rapidamente erodidos. Como correspondemos aos nossos compromissos pactuais (João 14.15,23)? Existem raízes de irrealidade em nossa aparente devoção?”[4]

Perguntas para reflexão:
1)            Is 1.2-4 - Quais são as acusações que Deus levanta contra o seu povo, às quais ele convoca toda a criação a ouvir?
2)            Por que podemos ver uma situação de desolação nacional sobre a nação de Israel?

3)            Nos versos 16 a 17 parece que Deus está chamando o povo de Judá à conversão. Como isso é possível, sendo que eles faziam parte do povo com quem Deus havia estabelecido um pacto? Será que há possibilidade de pregarmos sobre a necessidade de conversão para “crentes”? Há incrédulos membros de igrejas evangélicas? Será que você é uma dessas pessoas?

4)            Qual a única alternativa diante da ameaça do julgamento?


5)            Qual o futuro daqueles que insistem em sua rebelião?

Referencial Bibliográfico
JACKMAN, David. Teaching Isaiah. London: Proclamation Trust Media. 2010, 304 p.
KELLER, Timothy. Gálatas para você. São Paulo: Edições Vida Nova. 2015, 205 p.
OSWALT, John N. Isaías, volume 1. São Paulo: Cultura Cristã. 2011, 848 p.




[1] KELLER, Timothy, 2015, p. 110.
[2] É claro que aqui usamos de anacronismo para descrever a situação espiritual da nação de Israel, tendo em vista que sendo eles povo da aliança, envolveram-se com religiosidade pagã e idólatra.
[3] JACKMAN, David. 2010, p. 67.
[4] JACKMAN, David. 2010, p. 68-69.